Esta semana foi um fracasso! Saí da dieta uma vez…
Quando nossos planos não dão certo, é natural buscar explicações. Para alguns, o problema está em fatores externos: uma semana corrida no trabalho ou um imprevisto familiar. Outros, no entanto, podem se pegar pensando: “Eu deveria ter feito melhor”, “Qualquer erro é inaceitável”, “Se não for perfeito, não vale a pena”, “Se eu não conseguir atingir o padrão, sou um fracasso”, ou “Eu nunca consigo completar meus planos”.
Existe um traço de personalidade que conduz a pensamentos desse tipo: é o perfeccionismo.
O perfeccionismo nos leva a buscar padrões inatingíveis. Cada falha, cada pequeno desvio do ideal, torna-se motivo de autocrítica. A autoestima sofre, e nunca nos sentimos bons o bastante.
Perfeccionistas raramente se sentem satisfeitos. Mesmo ao atingir metas, há sempre algo que poderia ter sido feito melhor. A celebração é constantemente adiada, e a jornada se torna uma corrida sem linha de chegada.
Por outro lado, o medo do fracasso pode impedir o perfeccionista de explorar novos territórios. A zona de conforto oferece segurança, mas também limita o crescimento.
Esse comportamento geralmente tem origem na infância, em lares onde os pais eram excessivamente exigentes ou emocionalmente ausentes. Nesses casos, a criança pode desenvolver um grau de exigência muito alto na esperança de obter aceitação ou atenção.
A autora Brené Brown explora as consequências do perfeccionismo no funcionamento humano:
- Segundo ela, o perfeccionismo é um sistema de crenças autodestrutivo e viciante, baseado na ideia de que, se parecermos perfeitos e fizermos tudo perfeitamente, podemos evitar ou minimizar sentimentos dolorosos de vergonha, julgamento e culpa.
- O perfeccionismo é autodestrutivo porque a perfeição não existe, e essa busca constante é inatingível. Além disso, ele está relacionado à percepção — queremos ser vistos como perfeitos, mas não podemos controlar como os outros nos percebem, por mais que tentemos.
- O perfeccionismo também é viciante porque, ao experimentarmos vergonha, julgamento ou culpa, muitas vezes acreditamos que é porque não fomos perfeitos o suficiente. Em vez de questionar essa lógica falha, nos tornamos ainda mais obstinados em tentar fazer tudo perfeitamente.
- Sentir-se envergonhado, julgado e culpado, ou ter medo dessas emoções, faz parte da experiência humana. O perfeccionismo, na verdade, aumenta as chances de vivenciar essas emoções dolorosas e frequentemente leva à autodepreciação: “Estou me sentindo assim porque não sou bom o bastante.”
Mas o que isso tem a ver com autocuidado e mudança de hábitos?
Em primeiro lugar, o perfeccionismo pode nos levar a estabelecer metas muito altas, fora do alcance, resultando em insucessos frequentes e na desistência do processo. Outra consequência é não reconhecer pequenos avanços. Por exemplo, ao planejar ir à academia três vezes por semana, mas conseguir ir apenas duas, o perfeccionista pode não enxergar isso como progresso. A sensação de estar falhando é tão desconfortável que muitas vezes leva à desistência.
Então, qual seria o caminho para que alguém com essa visão conseguisse se engajar em um processo de mudança?
O primeiro passo é identificar essa maneira de enxergar os próprios comportamentos e refletir sobre sua origem (como, por exemplo, na infância). É importante reconhecer que o perfeccionismo pode ter ajudado a alcançar muitas realizações, mas também criar um novo padrão para lidar com situações em que as coisas não saem como planejado. O perfeccionismo não precisa ser a única estratégia para gerenciar os planos e projetos da vida.
Um caminho eficaz para lidar com o perfeccionismo e facilitar mudanças é a autocompaixão. A pesquisadora Kristin Neff descreve três elementos fundamentais da autocompaixão:
Gentileza: Ser gentil e compreensivo consigo mesmo ao enfrentar sofrimento, falhas ou sentimentos de inadequação, em vez de ignorar a dor ou se criticar severamente.
Humanidade Compartilhada: Reconhecer que o sofrimento e os sentimentos de inadequação fazem parte da experiência humana compartilhada — algo que todos vivemos, em vez de algo exclusivo do “eu”.
Atenção Plena (Mindfulness): Adotar uma abordagem equilibrada em relação às emoções negativas, sem suprimir ou exagerar os sentimentos. A atenção plena requer que não nos “identifiquemos excessivamente” com pensamentos e sentimentos, evitando sermos arrastados pela negatividade.
Quando estiver trabalhando em um projeto de mudança com um cliente ou paciente, observe se existe esse padrão de comportamento. Ajudá-lo a enxergar outras possibilidades pode ser a chave para o sucesso da mudança.